terça-feira, 31 de maio de 2011

Por um mundo sem camisas sociais brancas de manga curta

 Eu sempre tive aversão a seminários. Em toda a minha vida escolar não apresentei mais do que cinco e agora, no primeiro semestre da faculdade não tive como fugir. É engraçado eu gostar tanto de ler e escrever, mas simplesmente ficar sem reação quando todos os olhares estão focados em mim. Pra mim, seminários são um ritual de tortura coletiva e cruel.

Ontem – sim, ontem – foi a apresentação do meu grupo do TIO (Trabalho Interdisciplinar Orientado) no teatro da Universidade. Depois da correria pra terminar o trabalho deixei bem claro que eu sou um desastre falando em público e todos nós concordamos que eu não precisaria falar. Apenas estar lá. Sim, pois se algum membro do grupo faltasse, seria um ZERO bem grande e gordo.

Como se a idéia de estar lá no palco não me assustasse o bastante, o grupo ainda resolveu que iríamos todos de social esporte. Sapatos, jeans e camisa social branca. No dia do seminário eu me dei conta de que sapatos ok, jeans ok, mas camisa social branca? Eu tinha camisas de todas as cores, mas branca? Como caralhos eu não tinha uma porra de uma camisa social branca? Parabéns Will, começou se fodendo bem. Depois do escritório eu deveria correr, passar no shopping, encontrar algo decente com minhas ultimas economias do mês que somavam R$40,00 (que viraram R$30,00 porque eu resolvi que matar minha fome comprando hot dog e refrigerante era mais urgente que uma camisa branca para o seminário de conclusão de semestre da faculdade), driblar todas as filas, caixas, escadas, pessoas, metrôs e chegar ao teatro a tempo para apresentação que começaria às 20h20min.

Quando saí do escritório - eu trabalho num escritório de contabilidade - fui calcular o meu tempo e descobri que já estava atrasado. Meu grupo me mataria.

Shopping, shopping, shopping. OK. Eu passaria no shopping mais próximo a faculdade e tudo se resolveria bem. Entrei na primeira loja que vi e antes de perder mais tempo fui perguntando para uma vendedora se ela tinha camisa social branca. Não! Agradeci de um jeito não muito definido e saí apressado. De súbito me lembrei que há alguns meses atrás eu tinha comprado umas camisas lindas na Marisa por R$25,00 que eram confortáveis e caíam muito bem em mim. Perguntei pra um segurança onde eu acharia tal loja e ele me disse que apenas no Shopping Boulevard, na outra extremidade da plataforma. Maravilha. Não tinha tempo pra lamentações e saí correndo. Chegando à loja perguntei logo para mais uma vendedora e ela me veio com um “Não temos camisas sociais” que me pareceu uma facada no coração. Entrei na loja ao lado, e até então todas as camisas sociais decentes que eu tinha visto custavam pelo menos o dobro do dinheiro que eu tinha. Amaldiçoei o hot dog e o refrigerante que eu tinha comprado e ironizei minha mãe que se recusara a emprestar seu cartão já que o meu estava no limite. Nessa outra loja tinha umas roupas realmente encantadoras. Me apaixonei por uma jaqueta de couro sintético preta com uns zíperes atravessados que davam um ar de James Dean para o manequim. E por um blusão verde xadrez que vinham até os joelhos e ficaria lindo com coturnos. Voltei à realidade quando olhei a hora, 20h05min! Will, meu filho, foco. A camisa branca, você tem que encontrar.

Lembrei que na primeira loja que eu fui eu tinha visto uma – uma de única, somente aquela, nenhuma outra – camisa social branca por um precinho ótimo, mas de manga curta. Não teve jeito vai ser essa mesma! Corri de volta pra outra extremidade da plataforma rezando para que ninguém tivesse chegado perto dessa peça. A essa altura já corria gritando LICENÇA! De um jeito nada sutil para as pessoas que insistiam em brotar do chão na minha frente e as escadas rolantes que um dia me pareceram tão eficientes agora funcionavam como se estivesse acabando a gasolina. 

Bingo! Cheguei na loja, peguei a camisa, driblei a fila do caixa e após um breve – e espalhafatoso – momento no banheiro masculino onde eu lutei contra a guerra que foi tirar meu blusão, cachecol e vestir a camisa eu corri pra faculdade e consegui chegar a tempo de pagar um mico acadêmico coletivo pra todo mundo mas feliz por finalmente concluir a apresentação e queimar essa camisa de satanás.

Um comentário:

  1. Não suporto essas idéias doidas de trabalhos de faculdade. Uniformes então, me irritam hahahha. Acho q é por isso q sou superior incompleto. HAHAHAH

    Amei o post Will. LINDO LINDO <3

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